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Descobrindo o Patrimônio Afro-Paulista - A Experiência Afro Sampa

Por Déborah Fabrico


São Paulo, uma metrópole dinâmica conhecida por sua rica diversidade cultural, também abriga uma vibrante e historicamente significativa comunidade Afro-Paulista. No entanto, a história dessa comunidade não é linear. Ela é fragmentada, com muitos registros perdidos ao longo do tempo, tornando-se semelhante a montar as peças de um quebra-cabeça complexo. Esse desafio narrativo é uma barreira significativa para contar a história do povo afro-brasileiro.


Para aqueles que desejam explorar o impacto profundo da cultura afro-brasileira na história e na vida contemporânea da cidade, a Experiência Afro Sampa oferece uma jornada esclarecedora. Este tour único, cuidadosamente elaborado para mostrar a essência do patrimônio afro-paulista, guia os visitantes por alguns dos marcos mais icônicos e culturalmente ricos de São Paulo.


Vamos explorar o itinerário que promete uma imersão enriquecedora na história e nas contribuições dos afro-brasileiros na cidade de São Paulo.


Biblioteca Mário de Andrade: Um Marco Cultural de São Paulo

Nossa jornada começa na Biblioteca Mário de Andrade, um marco histórico e cultural de São Paulo. Nomeada em homenagem a um dos escritores modernistas mais influentes do Brasil, essa biblioteca não é apenas um repositório de conhecimento, mas também um símbolo da dedicação da cidade à preservação cultural e ao esclarecimento.


Mário de Andrade, um modernista brasileiro, foi um pesquisador dedicado da cultura popular do Brasil. Embora sua herança afro-brasileira frequentemente tenha sido negligenciada, suas contribuições para o cenário cultural foram imensas. Ele explorou e documentou apaixonadamente as diversas expressões artísticas do Brasil, destacando a rica cultura da nação. Seu trabalho durante o movimento modernista foi crucial para valorizar e celebrar a cultura popular brasileira.


Antiga Loja Mappin

Nos anos 1950, um movimento conhecido como suingue, que precedeu o samba rock, surgiu nas periferias de São Paulo. Ele encontrou um ponto de encontro crucial em frente à antiga loja Mappin, na Praça Ramos, onde jovens das periferias da cidade se reuniam para divulgar seus bailes por meio de panfletos.


Um desses jovens era meu pai, Romildo Fabrício, o criador do Clube Pérolas Negras, um grupo que começou a organizar bailes na casa da minha avó, no bairro da Casa Verde, conhecido como a Pequena África de São Paulo. Esses jovens negros queriam o que a maioria dos jovens deseja: diversão. Sem dinheiro, começaram a realizar bailes em suas salas de estar. À medida que esses eventos cresciam, expandiram-se para salões em prédios como o Martinelli, Matarazzo, Palmeiras e até o elegante salão do Aeroporto de Congonhas.


Esses bailes apresentavam algo curioso chamado de Orquestra Invisível, onde Osvaldo Pereira, considerado o primeiro DJ do Brasil, tocava músicas por trás das cortinas, fazendo parecer uma orquestra. Após 90 minutos, as cortinas se abriam, revelando Osvaldo. Contratar um DJ era uma alternativa para esses jovens negros que não tinham recursos para contratar uma orquestra real. Para lidar com o racismo enfrentado ao alugar espaços da elite, esses jovens negros contavam com a ajuda de amigos brancos que fingiam ser os locatários.


Teatro Municipal

Em seguida, seguimos para o Teatro Municipal, uma joia de importância arquitetônica e cultural, para contar a história de uma organização que destaca a coragem de ativistas, o contexto repressivo da ditadura militar, os eventos que impulsionaram a fundação do MNU e a importância e legado desse movimento.


Em 1978, em meio à repressão da ditadura militar no Brasil, um grupo de ativistas corajosos reuniu-se nos degraus do Teatro Municipal de São Paulo. Em 7 de julho daquele ano, o Movimento Negro Unificado (MNU) foi oficialmente fundado em um evento histórico marcado pela resistência e pela luta por igualdade e justiça. Este evento foi um marco crucial na promoção da conscientização e defesa dos direitos da comunidade negra no Brasil.


A emergência do MNU foi impulsionada por uma série de incidentes emblemáticos ocorridos em São Paulo. Entre eles, destaca-se o episódio no Clube de Regatas Tietê, onde quatro jovens negros foram impedidos de usar a piscina, um homem negro inocente foi preso acusado injustamente de roubar bananas em uma feira, e outro trabalhador negro foi morto pela polícia. Esses eventos serviram como catalisadores para a mobilização e unidade da comunidade negra, ressaltando a necessidade urgente de organização e resistência.


No dia de sua fundação, mais de 2.000 pessoas se reuniram em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. Essa grande manifestação de engajamento e determinação destacou a luta contra a discriminação racial e a violência institucional. Durante o evento, foi distribuída uma carta aberta do movimento, conclamando a população a se organizar contra as injustiças, refletindo a urgência e importância do movimento.


A fundação do MNU representou um marco na história da luta pelos direitos da comunidade negra no Brasil. Em um período de intensa repressão política, a coragem e a resistência dos ativistas foram fundamentais na promoção da igualdade e justiça. O MNU desempenhou um papel central na conscientização pública e na defesa dos direitos civis, estabelecendo-se como uma força importante na luta contra o racismo e a discriminação.


Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Irmandade Negra)

Até o século XIX, existiam diversas irmandades negras, sendo a mais conhecida e duradoura a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Essa irmandade criou um espaço para cuidar e enterrar seus membros falecidos, desempenhando papéis essenciais na sociedade paulistana. Proporcionavam ajuda mútua, apoio em tempos difíceis e organizavam funerais, missas, enterros e orações pelas almas dos falecidos.


A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos tem um significado histórico e cultural como um local de sincretismo religioso e resistência negra. As celebrações e os tambores em honra aos santos católicos frequentemente evocavam elementos ritualísticos africanos, servindo como uma forma de resistência à brutalidade da escravidão e conectando os indivíduos à sua terra natal.


A igreja também auxiliava pessoas escravizadas, por vezes ajudando no processo de obtenção da liberdade, além de servir como um centro crucial para que negros marginalizados e excluídos pudessem se unir e planejar suas estratégias de resistência. Assim, a igreja no Largo do Paissandu é um testemunho do sincretismo religioso ocorrido na colônia portuguesa e um patrimônio das tradições religiosas afro-brasileiras, preservando indiretamente a cultura negra.


Originalmente, essa igreja foi construída no Antigo Largo do Rosário, hoje conhecido como Praça Antônio Prado, uma área bem localizada e famosa pelo Triângulo Histórico. Devido à modernização, a igreja negra foi transferida para o que era então uma área periférica, o Largo do Paissandu.


É importante destacar que a Irmandade Negra também desempenhou um papel significativo na abolição da escravidão, atuando como uma força de resistência e apoio à comunidade negra.


Estátua de Zumbi dos Palmares: Um Lugar de Memória

Em frente à antiga Igreja do Rosário está a Estátua de Zumbi dos Palmares, uma escultura que homenageia Zumbi dos Palmares, o líder do Quilombo dos Palmares. Este quilombo foi uma das mais significativas comunidades negras, oferecendo refúgio para indivíduos escravizados que haviam escapado. A estátua é um importante local de memória, celebrando a resiliência e a resistência da comunidade negra.

Casa Preta Hub

Idealizada por Adriana Barbosa, fundadora do Festival Feira Preta, a Casa Preta Hub é um espaço colaborativo econômico e cultural que empodera empreendedores negros, com foco na difusão e preservação da cultura artística negra. Este hub físico e autossustentável apoia empreendedores de diversas formas, oferecendo uma ampla gama de instalações:


  • Auditório Versátil, um espaço flexível para eventos diversos.

  • Estúdios equipados para fotografia, gastronomia e produção sonora.

  • Espaços de Coworking, projetados para colaboração e eventos.


A Casa Preta Hub é um testemunho da força e da criatividade da comunidade negra, proporcionando os recursos e o suporte necessários para alcançar o sucesso.


Liberdade

A área agora conhecida como o bairro da Liberdade, em São Paulo, já foi o centro institucional para a população negra durante o período do tráfico de escravizados no Brasil.


Esses marcos históricos e os esforços contínuos para preservá-los destacam a rica herança negra do bairro e a luta constante contra o apagamento da história negra.


Praça 7 de Setembro

Essa praça foi o local do antigo Pelourinho, adjacente à Casa de Câmara e Cadeia.


Igreja de Santa Cruz dos Enforcados

Localizada próxima à atual Praça da Liberdade, essa igreja marca o lugar onde pessoas negras escravizadas eram executadas por seus senhores e seus capatazes. Conhecida anteriormente como Largo da Forca, hoje abriga uma estátua de Madrinha Eunice, a primeira presidente da primeira escola de samba de São Paulo, a Escola de Samba Lavapés, fundada em 1937 e ainda ativa.


Capela dos Aflitos

Essa capela, localizada na Rua dos Estudantes e agora rodeada por prédios, já foi o centro do primeiro cemitério de São Paulo no século XVIII, o Cemitério dos Aflitos.


Memorial dos Aflitos

A restauração desse espaço religioso tem sido um objetivo central da organização desde sua criação em 2018. Quando uma casa vizinha foi demolida para construir um shopping, a obra ameaçou a estrutura da capela, que foi construída em taipa e está localizada em uma área de proteção patrimonial. A capela é um símbolo significativo de resistência em um bairro que sofreu gentrificação nos anos 1920 e que, desde então, é conhecido por sua cultura oriental.


Após uma denúncia da Unamca, foi descoberto um sítio arqueológico no terreno adjacente, contendo os restos mortais de nove corpos humanos. Esses são os primeiros restos conhecidos do Cemitério dos Aflitos. Como resultado, a construção foi interrompida e, após muita luta e mobilização da sociedade civil, a área foi transferida para a Secretaria Municipal de Cultura, que abrigará o futuro Memorial dos Aflitos.




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